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A monopolização das operadoras de saúde: quais os impactos para o mercado?

  • Foto do escritor: ART  Consultoria em Saúde
    ART Consultoria em Saúde
  • 17 de fev. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 23 de mai. de 2024

A intensificação do monopólio do setor de saúde suplementar, que engloba os serviços privados prestados por meio de planos de saúde,  caminha a passos largos no Brasil.


Podemos dizer que, atualmente, cinco organizações dominam a maior parte setor, com tendência a uma centralização ainda maior. Além disso, a competição entre essas organizações é relativamente pequena, com cada uma atuando em nichos específicos de mercado. Duas, com foco nos segmentos C e D da população; duas, no B e uma parcela do A, a menos abastada entre os mais ricos; e outra com forte atuação nas cidades do interior dos estados brasileiros.

Outro elemento muito importante é o modelo de negócio verticalizado, por meio do qual as operadoras de saúde internalizam os recursos necessários para atender seus clientes. A verticalização abarca desde a formação de infraestrutura de redes próprias de atendimento, como hospitais, clínicas e laboratórios, até os recursos humanos, incluindo os médicos e profissionais de saúde. Tudo isso, com uma visão muito forte de redução de custos em todos os setores, característica das empresas de capital aberto, seja qual for o setor, que precisam apresentar lucro a seus acionistas.

 

Ao valorizar o que é barato em detrimento do que tem mais qualidade, mesmo respeitando os limites da segurança do paciente, essa mentalidade intensifica uma série de distorções já existentes. Uma delas, a mais critica, é que temos um sistema de saúde que ganha dinheiro tratando doenças, um conceito muito distante de posicionamentos mais modernos, que tem foco na prevenção e promoção da saúde das pessoas.


O modelo atual de remuneração


No modelo em vigor, médicos ganham por produtividade, submetidos a protocolos rígidos e com remunerações muito baixas, a média do mercado, com raras exceções, é cerca de R$ 60,00 por consulta. Esse cenário afastou os médicos mais experientes dos planos de saúde e atraiu os profissionais recém-formados que enxergam o trabalho na operadora como uma forma de ganhar experiência no início da carreira.

 

O paciente também fica cada vez mais refém desse sistema porque tem poucas opções de escolha pelo número reduzido de operadoras. E mesmo como cliente de uma operadora tem pouco (ou nenhum) poder de escolha em relação, por exemplo, a médicos, laboratórios ou hospitais onde deseja ser atendido. Em geral, essa decisão, por diferentes mecanismos, é da operadora e tomada, majoritariamente, por critérios de custo.

 

Ademais, em um setor com forte visão imediata de redução de custo, o risco de sinistro, termo que reúne  todas as ações do beneficiário do plano em busca de procedimentos (consultas, exames ou cirurgias) está no topo das decisões. Afinal, quanto maior o sinistro, maior o custo. Nessa linha de pensamento fica fácil entender que as operadoras privilegiem a adesão a seu plano de saúde entre os que têm menos chance de adoecer e utilizar seus serviços.


Historicamente, essa foi uma das razões que fez com que as operadoras se voltassem para o mercado corporativo, praticamente, abandonando os planos pessoa física, que representam maior risco de inadimplência.

Na conta da sinistralidade, o público mais jovem representa menor risco, em detrimento dos mais idosos. No caso dos planos corporativos, a exclusão do idoso é automática, quando ele se aposenta. Sobre os poucos planos individuais que ainda existem, essas pessoas estão sendo descredenciadas de modo unilateral pelas operadoras ou ficam diante de valores impagáveis.

 

Com a balança das decisões pendendo sempre para o lado financeiro de forma imediatista, outras práticas foram incorporadas: prazos mais longos para autorizar procedimentos; prazos de pagamentos de médicos e hospitais prestadores de serviços, em torno de três meses ou mais, após a realização do procedimento, sem qualquer correção.

 

Em síntese, o sistema de saúde suplementar concentra os recursos, empodera o acionista em detrimento de todos os outros atores da cadeia, além de sobrecarregar o Sistema Único de Saúde (SUS), que passa a ter que acolher todos aqueles que, em determinado momento, são expulsos por representarem maior custo. O paradoxo é que esse sistema cresce retroalimentado pela ineficiência do SUS, que em tese é um modelo de excelência, mas com graves problemas de gestão, que contribuem para incapacitá-lo de atender toda a população ou manter o mesmo nível de qualidade em todo o país.

 

Assim, o atual modelo da saúde suplementar, a se manter como está, pode contribuir para quebrar o SUS ao direcionar para o sistema público tudo o que é alto custo. Em algum momento, a exemplo do que ocorreu em outros países, vai ser preciso mudar tudo isso e adotar um olhar voltado à promoção da saúde das pessoas para que não haja doença lá na frente, o que faz com que a sinistralidade caia. Afinal, é muito mais barato promover saúde do que tratar uma doença complexa. Portanto, a mudança é inegociável e se não acontecer por iniciativa das forças do mercado, vai acontecer por exigência do órgão público regulador.



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