Gestão de custos eficiente reflete nas finanças da empresa de saúde
- Mariana Abbud
- 19 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
Pode parecer óbvio dizer que uma “Gestão de custos eficiente reflete nas finanças da empresa da saúde”. De fato, essa afirmação vale para empresas de qualquer setor e, certamente, não haverá quem a conteste.
No entanto, colocá-la em prática nem sempre é tão fácil. Nas empresas de saúde, por exemplo, há um vício relativamente comum e prejudicial no momento de analisar os custos. É o que no jargão da área é denominado “análise por valor de planilha”. Isso acontece quando uma decisão de compra de um material é realizada com base apenas no valor do item, sem levar em conta todas as variáveis assistenciais inerentes à utilização do que está sendo adquirido.

Um exemplo prático:
As OPME (Órteses, Próteses e Materiais Especiais) são insumos utilizados na assistência à saúde e relacionados a uma intervenção médica, odontológica ou de reabilitação, diagnóstica ou terapêutica. No caso de uma prótese, existem no mercado opções mais antigas e as mais modernas que são comercializadas acompanhadas do aplicador. Comparando os preços, naturalmente, os mais modernos necessitam de um investimento maior.
Se a decisão considerar apenas o valor do item, a empresa de saúde vai optar pelo modelo mais antigo. No entanto, há um detalhe de extrema importância a ser considerado. Com as próteses mais modernas, o tempo de cirurgia do paciente pode cair pela metade. Só essa economia já é bastante significativa, mas ainda há outras variáveis, como menor tempo de internação do paciente e redução de uso de medicação no pós-operatório. Portanto, investir na prótese mais moderna é uma grande economia.
O custo precisa ser analisado dentro de uma visão ampliada dos negócios de uma organização de saúde. Caso contrário, a empresa pode comprar algo mais barato que, no entanto, vai aumentar o período de internação do paciente ou as horas no centro cirúrgico. E isso também vale para insumos mais simples, por exemplo, curativos. Será que a versão de menor custo vai aumentar o risco de infecção ou vai descolar e exigir mais trocas? Essas são algumas perguntas básicas na composição do custo de um curativo.
Em alguns de nossos clientes, analisamos custos relativos a exames.
Um dos mais emblemáticos está relacionado a pacientes internados com sintomas de infecção em que o hospital pode optar pelo protocolo tradicional - coleta de sangue para cultura - ou o exame realizado com a técnica PCR ( Reação em Cadeia da Polimerase). A primeira diferença entre essas duas alternativas é o preço: o exame de sangue para cultura pode ser até 10 vezes mais barato do que um PCR. Mas é preciso considerar outras variáveis antes de decidir qual protocolo adotar.
O PCR fica pronto em duas horas e já identifica o tipo de bactéria que está causando a infecção. Com isso, o paciente recebe uma medicação assertiva, melhora mais rápido o que diminui o tempo de internação. O exame de cultura precisa de cinco dias para dizer qual é a bactéria. Enquanto isso, o paciente será internado e medicado com um antibiótico de amplo espectro, em geral mais caros, uma vez que não se conhece a bactéria.
Considerando todas essas variáveis, mesmo o PCR sendo mais caro e não estando no rol da ANS, é a opção acertada. Ainda mais se o pagamento da operadora for por meio de diária global, uma tendência que prevalece no mercado, em que o pagamento do hospital inclui, em um único valor, a maioria dos serviços e custos da internação do paciente, independentemente do número de dias.
Um diferencial: conhecimento do mercado da saúde
Esses são apenas alguns exemplos que ilustram a importância da gestão de custos ser realizada por um profissional ou uma consultoria que tenha conhecimento das especificidades da saúde. E não são somente questões relativas à aquisição de materiais e procedimentos. Essa análise dentro do contexto de atuação do hospital também vale para a contratação de profissionais de saúde.
Considerando o modelo de por diária global, pode compensar, por exemplo, contratar um médico cirurgião mais experiente e, portanto, com maior valor de pagamento. É preciso considerar que com esse profissional haverá menos complicações cirúrgicas, certamente, ele fará maior número de cirurgias em determinado tempo do que um cirurgião com menos prática. Levando em conta o alto valor por hora da sala cirúrgica, o cirurgião mais experiente se paga e, ainda contribui para aumentar os ganhos do hospital.
Evidentemente, nem sempre optar pela solução de maior valor é a decisão correta. É preciso avaliar cada caso e ter uma visão global do processo. Somente assim, será possível aplicar a melhor gestão de custos para a realidade de cada empresa de saúde.